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domingo, 15 de fevereiro de 2009

A DOR QUE NÃO VAI EMBORA

Quem já não se pegou dizendo: "Não acredito que isso ainda me vulnerabiliza... já devia ter superado essa dor!"

Quando dizemos que não aguentamos mais sofrer, estamos à beira de mudar. Mas, para nos libertarmos da dor que resta, há algo que ainda temos de fazer: permitir sua existência para que ela depois se vá.
A dor que não vai embora é aquela que não foi sentida, vista e reconhecida. Aquilo que dói revela em nós algo que não gostamos de olhar: não termos sido vistos da maneira que gostaríamos. Nem pelos outros, nem por nós mesmos!
A dor que não vai embora clama por atenção e empatia e, por isso, cresce diante de críticas e julgamentos. Para nos aproximarmos dela, teremos que deixar de lado o desejo de justiça dirigido ao passado e olhar para frente. Se continuarmos a carregar as mágoas do passado, estaremos fadados a reencontrá-las no presente ou no futuro.
Mas simplesmente racionalizar a dor não a faz partir. Pois há um certo caráter emocional que a nutre e a faz crescer. Teremos, então, que usar de método afetivo: amar a dor. Não se trata de ter uma atitude masoquista, mas, sim, de aceitá-la.
Ao reconhecermos nossa indignação diante da própria dor, estaremos mais próximos de nossa verdadeira condição interior. Como diz Naomi Remen, em seu livro "As bênçãos de meu avô": "A dor que não é sofrida transforma-se numa barreira entre nós e a vida. Quando não sofremos a dor, uma parte nossa fica presa ao passado".
Muitas vezes, tememos entrar em contato com certas lembranças que nos fazem sofrer. No entanto, a resistência à dor mostra-se maior do que a sensação original. Temos medo de sentir e de sermos destruídos por ela, mas é ao senti-la que ela se dissolve. O convite deste texto é lembrar que podemos penetrar na dor e sair dela melhor do que estávamos!
Cabe ressaltar que esta proposta de penetrar na dor não se refere a algo como mergulhar num precipício, mas, sim, de sentir a dor apenas para superar os preconceitos e resistências em relação a ela. Cada um, a seu tempo, sabe como fazê-lo para não se perder na dor outra vez. Para tanto, há um método a seguir: contornar a dor até que você esteja pronto para encontrá-la.
Assim, podemos rodear a dor, como os antigos footings, aos domingos nas cidades do interior, onde rapazes e moças se cortejavam dando voltas na praça em direções opostas e só quando, então, estavam prontos para se aproximar é que sentavam nos bancos para se conhecer melhor. Como disse uma tia-avó, a segunda volta era uma grande emoção, pois nela estava a chance da confirmação do encontro de olhares...
A cada volta, nos aproximamos mais de nossa meta. Aprimoramos nosso olhar. Suavizamos as angústias que surgem antes de entrar em contato direto com nosso alvo. Quando estamos calmos, aproximamos-nos naturalmente nos aproximamos do centro, pois as barreiras de defesa, que criavam os contornos à sua volta já não serão mais tão sólidas. Menos resistentes, já não tememos tanto o que antes parecia tão ameaçador.
Quando compreendemos a dor, não estamos mais à mercê dela. Podemos nos libertar da dor à medida que recebemos a mensagem que ela queria nos dar.
Um ditado budista diz: "Não se apegue, nem rejeite, então tudo será claro".
Podemos penetrar na dor sem nela nos perdermos. A idéia é poder tocá-la com uma atitude amorosa. Por isso, se ao sentir a dor começarem os discursos mentais de revolta a seu respeito, é hora de sair dela novamente. E de darmos mais voltas em torno da praça para deixar espairecer a ansiedade, esvaziar os excessos e criar coragem novamente.

Uma vez que nos aproximamos afetivamente de nossa dor, estranhamente, deixamos que ela parta.

Isso foi um sentimento que compartilho com todos que aqui estão lendo um pedacinho de mim.

Um abraço a todos e boa semana!!!!

Que Deus ilumine a cada um de voceis.

Eduardo Januzelli

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